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Mostrando postagens de 2020

Novos tempos

 Vivemos dias estranhos.  Tempos em que deambulamos, tal fantasmas, tentando perceber os quês e os porquês, tentando decifrar o caminho mais seguro, tentando aprender os novos tempos que nos sufocam os gestos e a alma.  Ansiamos por liberdade, por abraços e afetos, por respirar o ar livre de quem sabe o amanhã risonho e seguro.  Por agora resta-nos continuar este trilho inseguro, com um nó no peito, entre o assustados e o expectantes, sem saber quais as verdades que nos estão reservadas.  Cabe-nos seguir com um misto de esperança e incerteza, precavidos e desalentados, com fé no futuro, mas receio nos dias, dando o melhor de nós a cada esquina.  A esperança permanece, por mais dura que seja a viagem. Apesar dos tempos em que nos dizem que as lonjuras são necessárias, esperamos pelo dia em que as distâncias se apaguem e os sorrisos nos voltem abertos e espontâneos, tal como os braços que não mais se fecharão.  Aguardamos pelas mesas, novamente cheias, de risos e gargalhadas, os espaços

Agora

Só por hoje vamos olhar a vida nos olhos.  Só por hoje vamos esquecer o ontem e o amanhã.  Só por hoje vamos pensar no aqui e agora.  Quem queremos aqui, quem nos faz feliz, quem queremos ao nosso lado, no nosso abraço, ao nosso alcance, a quem queremos dar um beijo e dizer "sinto a tua falta".  Gastamos muito tempo a pensar nos "ses" e "porquês". Perdemos tempo a olhar para trás e para a frente, no antes e no depois.  E o agora?  O agora é aquilo que realmente estamos a viver e é onde podemos fazer a diferença.  Nem sempre conseguimos parar o tempo e deixar de viver nas lembranças e nos planos futuros, nem sempre conseguimos esquecer o que já foi, o que já não volta e o que ainda não chegou e é apenas uma incógnita.  Nem sempre é fácil viver a vida em pleno, sem pensar no que foi e no que seria, no que poderia ser ou no que poderia ter sido, se este ou aquele acontecimento tivesse sido diferente. Mas o que conseguimos com isso é apenas uma ilusão. Porque

Fortuna

Quando a vida teima em nos mostrar que é nas pequenas coisas que se encerram aquelas que realmente precisamos para viver. Quando por mais coisas que conquistemos, tudo o que verdadeiramente importa, não é físico, não é palpável, não são coisas. O mundo insiste em mostrar-nos, dia após dia, das mais variadas formas, que se olharmos bem de perto, temos tudo aquilo que precisamos para sermos felizes. Os gestos, as palavras, o carinho, os olhares cúmplices, o estar lá, o ser de verdade, a amizade pura e desinteressada, o apoio, o estar perto, o festejar as vitórias como sendo nossas, o ficar feliz com a felicidade de quem gostamos, o amor, o afecto, a empatia… Podia continuar… Há muitas formas de riqueza, mas estas são apenas exemplos de como podemos ser ricos, sem que isso signifique “TER”. O mais importante será sempre o “SER” e o “ESTAR”. É uma frase feita, mas não deixa de ser verdade: “Não precisamos de muito para sermos felizes.” Esta é a realidade. A verdadeira rique

Deixa o tempo passar...

E quando a esperança começa a esmorecer?  Pensamos: "Amanhã será melhor!"  Mas o amanhã chega e é igual ao hoje, que já tinha sido igual ao ontem...  Esperamos uma luz, um vislumbre de mudança, damos um passo em frente, mas o caminho mantém-se e volta a levar-nos a lugar nenhum.  Olhamos ao redor e tudo parece igual, tudo se fecha à nossa volta e insiste numa espiral repetitiva em que, por mais voltas que dermos, voltamos sempre ao mesmo ponto de partida. Apenas mais cansados, mais céticos e menos crentes no futuro.  Não podemos ficar parados à espera que as oportunidades nos batam à porta, isso é óbvio. Mas as energias esgotam-se em voltas e mais voltas, sonhos e projetos, em metas e ideias que nunca veem a luz do sol. Por mais que se tente, por mais que se pense, por mais que se sonhe, a vida teima em mandar-nos de volta para o mesmo lugar. Como que a mostrar-nos que não basta a nossa vontade, não basta o querer, não basta sonhar.  As coisas acontecem quando e

Coisas que me tiram do sério - Parte 2

Ao olharmos para alguém, na primeira impressão sobre essa pessoa, nada mais deveria importar do que a assumpção da sua boa-fé. Todas as pessoas são boas até prova em contrário. Deveria ser assim.    Todas as pessoas deveriam ser consideradas boas, independentemente de serem brancas, pretas, amarelas ou azul às riscas. Isto seria num mundo ideal. Mas não vivemos num mundo ideal. Vivemos num mundo com histórias, tradições, lendas e mitos e, muitas das vezes, a história fala por nós.   Portugal é um país de brandos  costumes  mas, se olharmos para trás, tudo começou com D. Afonso Henriques a lutar contra a própria mãe pela nossa independência. Fomos um país de descobrimentos, fomos vitoriosos e conquistámos o mundo. Se tudo foi perfeito e isento de violência? Claro que não.   A nossa história, bem como a história mundial, está cheia de atos horrendos, de violência e de crimes. Anos e anos de escravidão, de perseguições em nome da fé, a inquisição, o extermínio de judeus... 

Palavras suspensas

Há dias em que as palavras nos faltam. Dias em que não conseguimos destrinçar o novelo dos pensamentos, nem encontrar aquele fio perdido que nos permite dar seguimento a uma simples frase.  Há momentos em que, simplesmente, não conseguimos traduzir aquilo que estamos a sentir.  Dias tristes, sem razão aparente, em que tudo está exatamente como ontem e, provavelmente, igual ao que estará amanhã. Não falta nada essencial, tudo o necessário, o estritamente necessário, está lá, mas falta tudo o resto.  Falta o calor, falta a luz, falta a brisa no rosto, falta a voz calma e calorosa que nos diz: "Vai ficar tudo bem." "Vai dar tudo certo." "Acredita!"  Nem todos os dias são bons.  Nem todos os dias são de esperança.  Há dias de saudade, de tristeza, de falta de esperança e de perspectivas para dar um passo em frente e seguir.  Há dias em que só apetece "estar".  Estar aqui, pairar pelo dia fora, sem fazer nada que contrarie o rumo qu

A luz das noites

O azul do céu sempre nos faz ver o mundo de uma forma mais positiva.  Olhar o céu, sem nuvens, com o sol a brilhar, é a imagem perfeita para podermos transmitir para a nossa vida essa mesma imagem.  Deixar as nuvens para trás, deixar o vento levá-las para longe e abrir caminho para o calor do sol, para dias luminosos.  No fundo é sempre essa a nossa meta.  Afastar os problemas, deixar para trás aquilo que nos perturba, caminhar o que for preciso até chegarmos a lugares onde o sol brilhe firme no céu.  E vivemos nesta busca constante por dias perfeitos, em que o caminho que fazemos de nada importa e apenas pensamos naquilo que queremos atingir.  Há dias muito difíceis, em que nada dá certo, em que o céu se carrega de nuvens negras e não há vento que as demova.  Há dias em que as forças faltam, os pés não querem caminhar e só queremos que a noite caia para podermos dormir e esperar um novo dia.  Há dias em que apetece desistir, largar tudo, deixar todos os sonhos e metas

A medida do amor

Como se mede o amor?  Em quilos? Será que podemos dizer: "Gosto de ti 5 quilos!" Não soa lá grande coisa.  Metros? "Gosto de ti 100 metros!"  Mais? Menos? Será que funciona?  Fica um pouco estranho...  Porque é que não conseguimos dar uma medida exata?  Porque o amor não se pesa, o amor não se mede, o amor é impossível de quantificar.  A dor, por exemplo, quando é partilhada, quando dividimos com alguém alguma mágoa, ela diminui, torna-se mais suportável. Ou os problemas, qualquer problema que possamos ter, torna-se  menor quando é compartilhado.  Mas não o amor.  O amor não se divide, não fica menor.  O amor ao ser dado só aumenta de tamanho, ao ser dado multiplica. Quanto mais amor damos, mais recebemos de volta.  Pode ser uma frase feita mas é a mais pura das verdades.  O amor ajuda-nos a viver a vida com mais leveza, com mais doçura, com um sorriso nos lábios.  Dar amor a alguém, é dar aquilo que temos de melhor, é acolher em nossos

Vai ficar tudo bem?

Não sei se vai ficar tudo bem.  Não sei se vamos ficar todos bem.  Não sei se vamos aprender algo com isto.  Não sei se os dias alguma vez serão os mesmos.  Dificilmente algumas pessoas aprendem algo com as situações que a vida lhes apresenta. Há quem, por mais que passe, continue a olhar apenas para o seu umbigo. Há quem continue a achar que apenas os seus interesses pessoais têm valor, que apenas os problemas de cada um importam e os colocam antes do bem comum.  O que esta pandemia nos veio mostrar, é que a vida muda num piscar de olhos e que sozinhos não somos ninguém. Precisamos de todos para todos ficarmos bem.  Porque por mais que façamos nós, sozinhos, de nada adianta se quem estiver ao nosso lado nada fizer.  Esta é uma luta de todos, em que para além de pensarmos na nossa segurança, temos que, obrigatoriamente, pensar em quem nos rodeia. Se não pensarmos como um todo, o que cada um faz, irá desmoronar-se e de nada servirá.  Não sei se todos vamos conseguir iss

Tempo

O tempo é um conceito relativo.  Nem sempre o vemos ou sentimos da mesma forma, apesar de, invariavelmente, o relógio bater sempre no mesmo compasso.  Quando estamos felizes, quando estamos bem, quando estamos em boa companhia ou a viver um momento bom, ele passa a voar e nem nos damos conta das horas, dos minutos ou da noite que cai.  Por outro lado, esse mesmo tempo arrasta-se quando estamos tristes, a sofrer ou, simplesmente, quando estamos onde não queremos estar ou a fazer algo que não nos preencha, que não nos traga alegria ou satisfação.  Há também os momentos em que o tempo pára totalmente e nos sentimos apenas ali, a flutuar.  Outros há em que gostaríamos de criar uma bolha de tempo, para que ele efectivamente parasse.  Outras vezes, gostavamos de o fazer voltar atrás e levar-nos para outro lugar, outro momento, outra vida.  O tempo parou.  Estamos numa bolha.  Mas como nos foi imposta à força, o tempo demora a passar.  Os dias são longos, os minutos infin

Escrever

Escrever.  Liberta a alma.  A alma que vive aprisionada nas palavras que se calam.  A caneta percorre as folhas em branco e leva para longe o coração, o pensamento, o olhar, o ouvido e a respiração.  Respira-se melhor no papel. Vê-se melhor de caneta em punho. Ouve-se melhor no cheiro de uma folha limpa.  Sente-se melhor nesta união, só o papel em sintonia com a mente.  Não importa fazer sentido, não importa ser a única a entender, só as palavras entendem e se entrelaçam entre si.  Frases e mais frases se encadeiam, uma após outra, sem fim à vista.  Não procuro porquês, nem para quê, somente a liberdade de um emaranhado de pensamentos com ou sem nexo, com ou sem sentido, mas sentidos de coração.  Escrever liberta.  O ar no peito, a nuvem na cabeça, o nó no coração.  Escrevo por mim, para mim.  O que me toca, o que vejo com o meu olhar, o que sinto perante o que os meus olhos e os meus sentidos alcançam.  Mas não estou só... Muitos veem com os meus olhos e atr

Faltas

Do que é que sentes mais falta?  Onde estarias agora, se pudesses escolher outro lugar para estar?  Não temos tudo aquilo que precisamos para sobreviver?  Sim. Na verdade sim.  Temos tudo o que precisamos para sobreviver. Mas falta-nos tudo aquilo que nos ajuda a viver.  Falta-nos o ar livre, o mar, o apego, o aconchego de um abraço, o riso solto e despreocupado, o ar puro de quem ama a liberdade, o ir sem rumo e sem amarras, sem medos e sem "ses".  Por agora temos este estar sem estar, ver sem tocar, amar ao longe, abraçar por correspondência, escondidos atrás de um ecrã ou de uma mensagem.  Tínhamos tudo aquilo que precisávamos.  Vamos voltar a ter.  Vamos voltar a ser livres.  E quando voltarmos a ter tudo aquilo que tínhamos mas que não víamos, que não queríamos ver, temos o dever de valorizar aquilo que nos é necessário para viver.  Não podemos dar por garantido o que sempre tivemos e nunca pensamos deixar de ter.  A distância e a ausência não de

Não esperes...

Eu espero...  Que venha o sol, que pare de chover, que o vento acalme, que o frio suavize...  Eu espero...  Pelo amanhã, pelo fim-de-semana, pelas férias, pelo próximo ano...  Eu espero...  Por uma oportunidade, por um dia melhor, pela altura certa...  E espero... E espero... E espero...  Eu espero que estes tempos difíceis passem e se ultrapassem.  Mas não espero para amar quem amo, para sentir a falta dos meus, para ter saudades, para dizer "eu estou aqui".  Neste momento, temos que esperar, que saber esperar...  Esperar por um abraço, esperar por um beijo, esperar pelas risadas em conjunto, esperar pelo toque na pele.  Mas não podemos esperar para valorizar aquilo que realmente importa, aquilo que realmente tem valor, aquilo que, de facto, faz a diferença nas nossas vidas.  E não é o sol nem a chuva, não é o frio nem o vento, não é o azul do céu, o fim-de-semana ou as férias, não é o amanhã nem o ontem, não são as oportunidades que passaram ou que

Coisas que me tiram do sério - Parte 1

Será que toda a gente sabe o verdadeiro significado da Páscoa?  Será que todos esses que andam a chorar por não poderem celebrar a Páscoa, sabem verdadeiramente, o que ela significa?  Sinceramente não me parece.  Estamos a viver uma pandemia a nível mundial. Sim, mundial. Significa que se encontra, em maior ou menor escala, em todo o mundo! Sim... No mundo TODO!  Incluindo as aldeiazinhas em que muitos de nós vivemos!  Um vírus que pode ser fatal para uma parte mais frágil da população, mas que pode afetar qualquer um de nós.  Toda a gente sabe, ou deveria saber, o que fazer para controlar a propagação do vírus. Ficar em casa! Isso, muito bem!  Mas, está toda a gente a cumprir a sua parte? Está toda a gente a dar o seu melhor, por si e pelos outros, para que este pesadelo acabe mais depressa?  Não, não está.  E porque é que falei na Páscoa?  Ora bem, falei na Páscoa precisamente para demonstrar que, muita gente que nunca lhe ligou nenhuma, está agora muito abalada

Dia (s) da Mulher

Um dia não nos muda, um dia não nos define.  Não, se nos outros 364 não dermos um passo em frente.  Não, se não nos afirmarmos, se não lutarmos pelos nossos direitos, pelos nossos sonhos, por aquilo em que acreditarmos.  Um dia não faz a diferença, se nos outros todos não houver respeito, amor, verdade, igualdade.  Um dia não faz diferença se não saímos do lugar, se não sairmos do nosso lugar, se não nos colocamos no lugar do outro.  Um dia não muda nada, se continuamos a olhar para este dia como um dia sem conteúdo, um dia vazio e sem significado, sem o seu significado real.  Este dia será banal, sempre que nos esquecermos do seu real significado, de todas/os que lutaram para podermos ser e estar como e onde quisermos, mesmo que, muitas vezes, isso não seja assim tão linear.  Um dia será igual a todos os outros, sempre que olharmos só para o próprio umbigo e não olharmos para quem está ao nosso lado, à nossa volta. Sempre que não estendermos a mão e apontarmos o dedo a