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Coisas que me tiram do sério - Parte 2

Ao olharmos para alguém, na primeira impressão sobre essa pessoa, nada mais deveria importar do que a assumpção da sua boa-fé. Todas as pessoas são boas até prova em contrário. Deveria ser assim.  
Todas as pessoas deveriam ser consideradas boas, independentemente de serem brancas, pretas, amarelas ou azul às riscas. Isto seria num mundo ideal. Mas não vivemos num mundo ideal. Vivemos num mundo com histórias, tradições, lendas e mitos e, muitas das vezes, a história fala por nós. 
Portugal é um país de brandos costumes mas, se olharmos para trás, tudo começou com D. Afonso Henriques a lutar contra a própria mãe pela nossa independência. Fomos um país de descobrimentos, fomos vitoriosos e conquistámos o mundo. Se tudo foi perfeito e isento de violência? Claro que não. 
A nossa história, bem como a história mundial, está cheia de atos horrendos, de violência e de crimes. Anos e anos de escravidão, de perseguições em nome da fé, a inquisição, o extermínio de judeus...  
Tudo isto faz parte da história. Se tudo isto ainda existe hoje em dia? Infelizmente sim. O mundo continua carregado de ódio e violência, normalmente contra tudo aquilo que seja diferente. 
Mas a verdade é que, não podemos nem devemos mudar a história, porque ela está lá para nos ensinar o que fomos e o que fizemos, de bom e de mau, e aquilo que não podemos nem devemos repetir. 
Vandalizar estátuas e monumentos, rasgar livros, retirar filmes, tudo numa tentativa de alterar o que quer que seja, não me parece muito natural, nem me parece certo. Não devemos esquecer que, os próprios nazis quiseram negar os campos de concentração onde mataram, das formas mais vis, milhares de pessoas. Não é a apagar o passado que se constrói o futuro. É a olhar para ele e conseguir identificar o que está bem, o que está mal e corrigir os erros. 
As pessoas não são melhores ou piores, por causa da cor da pele, do uniforme que usam, do carro que conduzem, do sítio onde vivem ou do dinheiro que têm no bolso, mas sim por causa dos atos que praticam. 
Deveria ser “inocente até prova em contrário”, mas, infelizmente, o mundo mostrou-nos, das mais diversas formas, que a maioria das vezes, só temos a esperar o pior. 
Não vivemos num mundo ideal. Muito longe disso. Mas cabe a cada um de nós, mostrar a essência de que somos feitos. Mostrar ao outro que somos compostos por amor. Amor a nós e amor ao próximo, seja qual for a sua cor, o seu extrato social, a sua forma de vestir ou os seus gostos pessoais. 
E o amor mostra-se nos atos do dia a dia, na forma como lidamos com o mundo que nos rodeia e não atrás de uma rede social. 
A bondade não é uma moda que sai de circulação no final da estação ou enquanto não chega um novo modelo. A bondade tem de fazer parte de nós, sempre, e não apenas quando as luzes estão a fazer foco para o nosso lado. 


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