O meu avô... É a peça que mais falta no meu Natal, no nosso Natal.
Sempre passámos o Natal na casa dos avós, todos ao molho numa cozinha minúscula, mas quente. Quente do calor da lareira e quente do calor do amor que nos unia a todos. Sempre foi assim.
Colocava-se mais uma mesa, que quase impedia a passagem para qualquer dos lados. Uma casa velhinha, antiga, com divisões minúsculas, mas onde abundava aquilo que realmente importa, a união, o carinho, o aconchego e o amor.
O meu avô ficava sempre no mesmo lugar, num cantinho da mesa, encostado à parede. No final do jantar, trocava de lugar e sentava-se ao lado da lareira. Lá dentro ia colocando as pinhas, que estando abertas, retirava e com um martelo ia retirando os pinhões, que esmagava também, acabando todo enfarruscado, mas deliciado com o manjar.
Por vezes, jogava-se às cartas. Os adultos jogavam à "sueca", as crianças jogavam ao "peixinho" ou outros jogos mais simples.
Contavam-se histórias de outros tempos, que nos faziam rir, avivávamos memórias, conhecíamos a infância de quem por lá já tinha andado.
Eram dias felizes, onde com pouco dinheiro, pouco espaço, mas abundância de valores e cumplicidade passávamos os melhores Natais... Sem o saber.
A partir de certa altura, um lugar ficou vazio à mesa... E nada mais foi igual... Outros lugares se acrescentaram, é certo, mas nada substitui a figura patriarcal que tanta sabedoria nos passava, apesar de austero, por vezes, mas com um humor muito peculiar, com que tanto me identifico.
A família aumentou, o ponto de encontro mudou, o Natal é um dia feliz, com o mesmo amor, a mesma cumplicidade, a mesma união, mas sem o avô... Sem a casa dos avós, com cheiro a lareira e pinhas a abrir ao lume.
E apesar da felicidade, há também a nostalgia, de quem, passem os anos que passarem, não volta a sentar-se no cantinho da mesa.
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