Como é que se arranca do peito a dor?
Aquela dor que nos domina por completo e nos entorpece os sentidos.
A dor que nos agarra as entranhas e nos consome por dentro.
Uma dor que destrói, que nos destrói e nos deixa sem chão, sem visão, sem qualquer réstia de nós mesmos.
Nem sempre é fácil renascer das cinzas, nem sempre é possível fazê-lo.
Há dores que, pura e simplesmente, não acabam e nos seguem para onde quer que vamos. Que passam a fazer parte de nós, que nos moldam e nos tornam em alguém diferente daquilo que somos, daquilo que fomos, daquilo que gostávamos de ser.
Algumas, vão-se diluindo nos dias que passam. Tornam-se mais suportáveis e menos penosas. Talvez por serem menores ou mais aceitáveis, talvez por aprendermos a olhá-las de outra forma, com um outro olhar.
Mas as maiores, aquelas que nos ferem a alma, aquelas que abalam toda a nossa estrutura e nos fazem questionar os deuses, essas dificilmente se tornarão menores. Dificilmente as vamos compreender por completo e, mesmo entendendo-as, será difícil aceitá-las e conviver com elas.
A vida será sempre feita de muitas dores. Umas maiores que outras, umas mais dolorosas que outras, umas mais marcantes que outras.
Mas todas nos tocam profundamente, nos marcam, nos mudam, nos tornam mais resistentes.
Algumas dores não param de doer.
Vão-nos acompanhar pela vida fora, vão - se juntando a outras dores.
Cabe-nos a nós, encaixá-las dentro do peito e viver os dias tentando não as ver, não as deixar vir à superfície. Aprender a viver com elas e não deixar que nos consumam e nos sufoquem.
Tentar que, mesmo fazendo parte da nossa vida, elas não sejam a nossa vida.
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