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O túnel

Estamos num túnel. 
Olhamos para a frente e tentamos chegar ao seu final. 
Tentamos seguir em frente, correr, não parar até vermos o que há lá no fim. 
Andamos sem pausas, sem pensar em mais nada que não seja alcançar o fim deste corredor infinito. 
E passamos a vida assim, sempre a andar em frente, sempre a seguir, sem desviar do caminho, com o único pensamento no fim do túnel. 
Mas e se, ao longo do túnel, que nos leva não sabemos onde, houver algo mais? 
E se, afinal, aquilo que está lá à frente não for o mais importante? 
E se, a luz ao fundo do túnel, o final que buscamos, não for o final, mas sim o túnel em si? 
E se a luz não estiver no final mas sim no percurso? 
Se olharmos em volta, ao invés de apenas olhar em frente, poderemos ver que este longo corredor, tem portas e janelas, tem quartos e salas, tem jardins e canteiros, prontos a serem explorados. 
Se dermos um passo ao lado e abrirmos a janela que ali se encontra, veremos que há uma paisagem, que há ar puro, árvores... Que há vida, pronta a ser vivida. 
Se abrirmos a porta do outro lado e nos atrevermos a passar por ela, saíremos deste túnel e a luz será outra, a visão será outra e o final será, certamente, outro. 
Basta desviarmo-nos um pouco daquilo que pensamos ser o único caminho, para conseguirmos ver outras saídas, outras portas, outros caminhos, no fundo. 
Temos que ter uma visão mais geral daquilo que é a nossa vida. 
Apesar de acharmos que o caminho é sempre em frente, às vezes é preciso desviar do caminho inicial, virar à direita ou à esquerda, abrir aquela porta que achávamos estar fechada, espreitar outras janelas. 
A vida não tem que ser um túnel de uma saída só. 
Às vezes só temos de ter a coragem de nos desviarmos da estrada principal e ir por caminhos secundários. 

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